Luís Montenegro foi duramente criticado por todos os partidos em relação à questão da imigração, após o anúncio feito pelo primeiro-ministro. Segundo a declaração, entre cerca de 18 mil estrangeiros em situação irregular em Portugal, 4578 seriam notificados para deixarem voluntariamente o país num prazo de 20 dias. A medida foi amplamente considerada uma ação eleitoral, como apontou o secretário-geral do PCP, Paulo Raimundo — opinião que foi partilhada, com diferentes nuances, por quase todos os líderes partidários no mais recente debate televisivo entre representantes das forças políticas com assento parlamentar.
Pedro Nuno Santos, líder do PS, recordou que a AIMA (Agência para a Integração, Migrações e Asilo) já realiza notificações para abandono voluntário de imigrantes, acusando Montenegro de utilizar a entidade para fazer campanha, numa tentativa de rivalizar com o Chega. Essa abordagem, argumentou, prejudica a imagem dos emigrantes portugueses nos EUA e no Canadá que vivem em situação irregular.
O socialista afirmou que tal prática nunca tinha sido diretamente invocada por um primeiro-ministro, apesar de ser um procedimento habitual, reforçando a ideia de que se trata de uma jogada eleitoral.
André Ventura, por sua vez, acusou Pedro Nuno Santos de hipocrisia ao abordar o tema, considerando que o PS contribuiu para a atual desorganização na política migratória do país.
Luís Montenegro respondeu recorrendo a uma fórmula que repetiria em outros momentos do debate: “A lei é para cumprir, zigue, ‘trumpização’, zague”. A frase foi uma reação à crítica de Pedro Nuno Santos, que acusou o primeiro-ministro de alinhar com a retórica do Chega, utilizando o termo “trumpização” em alusão ao estilo do ex-presidente norte-americano Donald Trump.
Montenegro classificou a situação herdada como caótica, justificando que o atual governo está apenas a implementar uma política de normalização. Para ele, é essencial promover uma imigração com base em princípios humanistas e estruturada em regras claras. Ele destacou ainda que a política de retorno deve assentar em três pilares: a existência de centros de instalação, uma política clara de repatriamento e unidades especializadas em estrangeiros e fronteiras.
O primeiro-ministro também acusou Pedro Nuno Santos e André Ventura de travarem propostas da AD para acelerar a legislação sobre retorno de imigrantes.
Ventura voltou a insistir na ideia de que é necessário controlar a imigração, acusando PS e PSD de se afastarem da proposta do Chega, e fez uma comparação com os retornados das ex-colónias em 1974, dizendo que a atual situação é ainda mais crítica.
Já Mariana Mortágua, do Bloco de Esquerda, criticou os partidos do centro por, segundo ela, terem aberto espaço para o avanço da extrema-direita. Mencionou que essa tendência segue duas estratégias principais: vitimização e ataque aos imigrantes, usados como bodes expiatórios. Defendeu que a única forma de promover inclusão é através da regularização e documentação dessas pessoas.
Quando questionada sobre se concordava com as notificações emitidas pelo governo, respondeu com uma pergunta retórica, afirmando que não cabe a ela concordar ou discordar de atos administrativos. Ainda assim, reiterou que a única forma de acolher com dignidade é garantir documentos aos imigrantes, destacando que estes contribuem significativamente para a sustentabilidade da Segurança Social, com uma contribuição anual de cerca de três mil milhões de euros.
Rui Rocha, da Iniciativa Liberal, também associou o gesto de Montenegro a uma estratégia eleitoral, comparando-o a outras decisões populistas. Apresentou a posição da IL como defensora de uma imigração baseada em regras e dignidade: quem trabalha e cumpre a lei deve poder ficar.
Durante a discussão, houve uma troca generalizada de opiniões sobre a divisão de responsabilidades entre a AIMA e a PSP no processo de regularização. Inês de Sousa Real interveio para lembrar que todos os partidos defendem o cumprimento da lei e destacou o valor dos imigrantes para o sistema social.
Por sua vez, Rui Tavares, do Livre, fez um apelo direto ao primeiro-ministro, pedindo que levasse os demais líderes a sério e não recorresse a medidas simbólicas e eleitoreiras. Lembrou que a medida anunciada afeta apenas 0,2% dos imigrantes em Portugal — cerca de 4500 pessoas —, questionando o real impacto do anúncio.
Voltando-se para André Ventura, Tavares sugeriu que o líder do Chega deveria se desculpar pelos nomes que colocou no Parlamento e na Assembleia Municipal de Lisboa, apontando casos de corrupção e crimes graves.
No final do debate, após uma pausa, Ventura criticou o moderador por, segundo ele, não ter tido oportunidade de responder às acusações e defender a sua honra.
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